Tudo corria normalmente, até mesmo o tédio das aulas lhe corriam bem, a companhia para variar era espectacular. O ambiente derrotador predominava sempre naquele grupo e entre gargalhadas faziam transparecer que a eles nada os afectava, nada os deitava abaixo, para qualquer fraqueza estariam sempre todos juntos para a superar e daqueles olhares nunca iria sair o brilho e no rosto o sorriso iria sempre permanecer, era a primeira impressão de toda a gente que os via e convivia com eles. Naquele ambiente a que aquela rapariga já chamava de ambiente familiar era do melhor, não existia o preconceito, o ódio, lá não existiam os maus nem os bons, todos eram iguais independentemente das suas características, ninguém era negado, gozado, humilhado, ninguém queria saber do exterior apenas o interior contava.
Mas, aparte desse grupo existiam outras pessoas, um pouco diferentes, essas viviam com preconceitos, só os bons poderiam ser como eles, só os melhores poderiam ter 'algo para dar', só os cínicos como eles poderiam ter alegria e sucesso, ou melhor, eram tão obcecados pelo sucesso que já nem ligavam ás alegrias, ás memorias, ás histórias vividas, apenas se interessavam com a vitórias que tiveram durante toda a vida e com aquelas que ainda vinham um dia como por milagre ter com eles. No exterior eram todos diferentes, mas lá no interior, no fundo do coração todos iguais, apenas um se destacava pela sua simplicidade, apenas um despertava algo nela, e ela sabia que a indiferença não predominava no olhar dele sempre que se cruzavam e olhavam olhos nos olhos.
Embora a maioria negasse aquilo que toda a gente notava e via no olhar de ambos ela nunca deixou de acreditar na interferência que ele tentava passar de cada vez que a olhava, e ela pensava no porque de pensar naquilo, de pensar nele, o porque de não acreditar na indiferença que ele lhe tentava passar, o porque dele, uma pessoa cheia de preconceitos olhar para ela, uma pessoa completamente livre de qualquer tipo de pensamento sem certezas sobre os outros, e ao sabor do vento enquanto os seus cabelos esvoaçavam ela acendia o seu primeiro cigarro do dia, olhou para o relógio e fez uma pequena pausa, ainda era cedo, tinha tempo para se sentar na areia húmida e apreciar o mar enquanto fumava aquele cigarro que lhe dava o necessário para começar o dia juntamente com o sorriso que carregava todos os dias.
Ao fundo avistou alguém que despercebidamente a olhava fixamente, ou então pensava que ela não o conseguia ver, era ele, ela tinha quase a certeza, mas o que ele estaria ali a fazer? ele deveria de estar preocupado com o seu próximo sucesso ignorando o pouco tempo que tinha para ele, ignorando os sentimentos e passando a frente de alegrias, ele continuava a caminhar na sua direcção e quanto mais próximos mais certeza ela tinha de quem ele era, e fingindo que nada se passava apagou o seu cigarro virou costas e continuou o seu caminho até a escola.
Por entre os corredores cheios, fingindo que nada se passava, deu por ela a procura-lo, sem perceber porque perguntou-se o porque de ter fugido dele naquela manhã e porque motivo estava ela inconscientemente a sua procura, e no silêncio da sua alma não obteve qualquer resposta.
Ele não apareceu e assim aconteceu durante o resto do dia e ela perguntava-se porque.
O ultimo toque suou e apressadamente arrumou as suas coisas e saiu pela sala, desde a manhã desse dia ainda não tinha parado de pensar no porque de ele não ter aparecido na escola durante toda a manhã, almoçou sozinha o que nunca acontecia desde que se tinha juntado ao seu grupo de amigos, mas sem pensar ela saiu sozinha recusando companhia, mais uma vez olhou para o relógio e viu que ainda tinha tempo para a sua aula da tarde e decidiu voltar a praia que não ficava muito longe da escola e distraidamente acendeu o seu segundo cigarro. Ela apenas tinha um intenção em ir à praia que era ver se o rapaz ainda lá estava, e muito admirada viu-o sentado no sitio onde ela tinha estado naquela manhã, ou melhor, no sitio onde normalmente ela se sentava quando lá ia sozinha, aproximou-se e sem demora pronunciou as unicas palavras que lhe vinham a memória 'não apareceste nas aulas esta manhã' admirado respondeu 'como soubeste?' e envergonhada ela respondeu 'procurei-te e não te encontrei' e mais uma vez admirado ele perguntou porque é que ela o tinha feito, sem poder fugir ou omitir ela respondeu ' pela mesma razão que aqui estou, para te encontrar, mas e tu, porque faltaste?' envergonhado respondeu 'para que me encontrasses e não voltasses a fugir de mim como sempre fizeste, para te fazer acreditar que nem todas as pessoas são iguais por dentro e para saber também se algum dia tu chegaste mesmo a reparar em mim' perante isto apenas teve uma resposta ' sim, sempre reparei e sei que nunca fui indiferente' dando a sua ultima resposta ele disse 'pois nunca foste e é exactamente por isso que esta na hora de dizeres adeus a tudo aquilo que tu pensas porque eu sei que tu és como eu, eu já fui assim, e sei como te sentes, a melhor pessoa do mundo, mas nem tudo é assim, falta-te o pouco que se tornará essencial, o amor, e acredito que com isso tu virarás costas a todos os teus pensamentos deixarás os teus preconceitos porque tu também os tens e correrás atrás do que acreditas que te poderá fazer ainda mais feliz', dizendo isto virou costas e foi embora.
A noite chegou e ela não conseguia dormir ao pensar em todas aquelas palavras, será que ele tem mesmo razão? era a única coisa que ela questionava, de facto falta-me aquele pouco pensava ela, a noite passou devagar como acontecia sempre que ela não conseguia dormir e no dia seguinte voltou a passar pela praia, sentou-se na areia húmida a olhar o mar e a fumar o primeiro cigarro do dia, ao longe voltou a avista-lo enquanto se aproximava, mas desta vez não fugiu ficou a espera que ele pronunciasse as primeiras palavras, mas silenciosamente ele limitou-se a sentar-se a seu lado e esperou que ela dissesse aquilo que ele já tinha quase a certeza de que iria ouvir, acabando o seu cigarro e tremendo devido ao frio ela pronunciou-as ' virarei as costas a todos os meus pensamentos, a todos os preconceitos, e irei a correr atrás daquilo que acredito que me possa fazer mais feliz, tu' e diante destas palavras fizeram juntos o caminho até a escola repetindo-o todos os dias, e a medida que o tempo passava ela valorizava mais as palavras dele, pois desde que deixará tudo aquilo que era errado para trás ela era cada vez mais feliz.

1 comentário:
Bem verdade! Se a conseguir encontrar saberá muito melhor :D
Obrigado! Um bom Natal também para ti (:
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